Ilídio Faria *
Publicada em 06 de junho de 2017 no site CIO.
Scrum é uma framework para desenvolver e manter produtos complexos, usualmente associado a processos de desenvolvimento de software. Mas o Scrum também é muito mais do que isso. É uma ferramenta de organização do trabalho aplicável a qualquer tipo de organização, em qualquer ramo de atividade e gerindo produtos ou serviços mais ou menos complexos.
No entanto, seja qual for o tipo de organizações que pretenda implementar Scrum na sua gestão diária, existe um conjunto de regras que não devem ser alteradas. De forma muito simples as explicamos aqui.
O sistema é constituído por Papéis, Fluxos, Artefatos e Eventos.
Papéis? Existem somente três no Scrum: o de Product Owner, pessoa responsável por garantir os requisitos base do produto, alterações/melhorias, e a entrega final ao cliente; o Scrum Master, que é o principal responsável pela implementação e gestão do Scrum, um facilitador, responsável pelo funcionamento correto do framework; e por último uma Dev Time ou equipe de produção ou desenvolvimento.
Por outro lado, temos os Fluxos, e estes não são mais do que Sprints. No Scrum o grande objetivo é em cada Sprint entregar uma parte funcional do produto para o cliente final, que tenha grande valor adicionado para o cliente.
Normalmente um sprint varia entre uma semana a um mês. Em um sprint de um mês o cliente pode ter quatro incrementos no produto que está adquirindo. Na realidade, o cliente está a assistir à construção do produto/serviço.
E os Artefatos? O nome pode assustar, mas trata-se somente do trabalho ou do valor para o fornecimento de transparência e oportunidades para inspecção e adaptação, antes, no meio e final de um sprint. Os principais artefatos são o Product Backlog, Sprint Backlog e Product Increment.
Por último e não menos importante temos os Eventos, que são acontecimentos que ocorrem durante e no final do sprint. Estamos a falar essencialmente de reuniões com tempos e objectivos muito bem definidos.
Daqui destacamos o Sprint Planning Meeting, ou seja, a reunião de kick-off de cada sprint, o Daily Scrum, uma fantástica reunião diária de 15 minutos, em pé, onde é discutido o que se fez no dia anterior, o que se vai fazer nesse dia, e principais obstáculos encontrados, e ainda o Sprint Review e o Sprint Retrospective.
Mas afinal em que é que o Scrum pode ser útil à sua organização?
O Scrum é constituído por três valores: transparência, inspecção e adaptação, que de modo frio podem não dizer nada, mas que em organizações que aplicam o Scrum corretamente, significam redução dos prazos de realização de projetos/produtos/serviços e redução dos custos, pois evitam-se as derrapagens, uma vez que o cliente acompanha o processo de desenvolvimento do projecto/produto/serviço e, acima de tudo cria um sentimento de união entre toda a equipa Scrum e também desta com os principais stakeholders.
Um dos principais mitos que rodeia o Scrum é o facto de se pensar que o mesmo só se aplica a grandes organizações que desenvolvem software. Errado! Uma pequena startup com cinco a seis colaboradores pode perfeitamente utilizar Scrum.
Vou dar um pequeno exemplo de uma empresa de consultoria financeira onde implementei Scrum. O quadro de pessoal era muito reduzido, com um director, um gestor de clientes, três consultores e uma pessoa de apoio administrativo.
O primeiro passo foi atribuir papéis: o diretor acumulou também a responsabilidade de Scrum Master, o gestor de clientes mudou o nome para Product Owner, mudando também um pouco a forma como se relacionava com os clientes, e a Dev Team passou a funcionar como uma equipa produtiva, deixando cada consultor de trabalhar um projeto do início ao fim, e passando todos a desenvolver uma parte do projeto como equipa multi-
disciplinar que eram.
Os resultados foram fantásticos, a empresa aumentou seu faturamento em cerca de 25%, no primeiro período fiscal, e os timings de entrega dos projetos passou para 99% nas datas acordadas!
(*) Ilídio Faria é consultor da Winning Scientific Management. Este texto foi publicado originalmente na Computerworld de Portugal
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