Ainteligência artificial já começa a ganhar um orçamento próprio dentro das empresas no país. A busca pela redução dos custos e o aumento da produtividade vêm impulsionando o avanço no uso de soluções que envolvem robôs capazes de conversar com os clientes e de sistemas que analisam milhares de dados em poucos segundos. Em alguns casos, o volume de recursos destinado a esse segmento vai aumentar em mais de cinco vezes em 2018 em relação ao aplicado neste ano.
Pete Warden, engenheiro de pesquisas do Google, destacou que o futuro da inteligência artificial está no reconhecimento de imagens. Ele cita o exemplo da integração entre câmeras e informação baseada em computação na nuvem.A forte concorrência entre as empresas de tecnologia tem permitido ainda a redução nos preços dos sistemas, tornando a inteligência artificial mais acessível às companhias, que vêm aplicando essas soluções em seus processos logísticos e até nos produtos ou serviços vendidos diretamente aos consumidores. Segundo estimativas da Gartner, os gastos com análise de dados e inteligência que usam inteligência artificial devem somar US$ 182,5 milhões no Brasil neste ano.
— É como você apontar o celular e traduzir automaticamente qualquer coisa que está na imagem, como o nome de um restaurante. A imagem é enviada para o servidor e mostra a informação traduzida. A tendência é a criação de novas soluções cada vez mais rápidas. Hoje o que está mais adiantado são os modelos de reconhecimento de imagem com base nas informações já coletadas. E agora estamos trabalhando para que os sistemas reconheçam coisas novas — destacou Warden.
Marc Trembley, engenheiro da Microsoft, lembrou que as empresas estão buscando eficiência. Por isso, a indústria está investindo em equipamentos capazes de oferecer novos serviços.
— As empresas estão saindo do analógico. A indústria está criando uma nova rede para explorar novas soluções baseadas na computação da nuvem — afirmou Trembley.
Assim como Google, a Qualcomm investe em sistemas de reconhecimento facial, que deverão ser usados em produtos como celulares e em sistemas de segurança usados por empresas e governos, por exemplo. Prova disso foi o investimento recente feito na chinesa SenseTime. Em conferência realizada pela Qualcomm no Havaí, que reuniu fabricantes de diversos setores, Cristiano Amon, presidente da Qualcomm Technologies, lembrou que as empresas estão cada vez mais voltadas para a economia digital.
— Estamos investindo em uma conectividade cada vez mais rápida, processadores poderosos e máquinas capazes de aprender (o machine learning). Isso cria o que chamamos de economia digital, que começou com o computador. Esse novo cenário permite ser um ponto importante de como todos nós trabalhamos a produtividade no nosso dia a dia. É parte da vida digital. Isso mostra que é só o começo — disse Cristiano Amon.
Donald Feinberg, vice-presidente de Pesquisas da Gartner, lembrou que a redução nos preços das soluções ajuda a impusionar a aquisição dos sistemas.
— A competição está crescendo e reduzindo os preços. Além disso, quanto mais usuários, menores os preços. Os descontos crescem à medida que a concorrência aumenta, chegando entre 30% e 40%. Essa é uma das áreas que cresce mais rápido no Brasil. Muitas companhias têm pequenas aplicações bem-sucedidas e agora estão buscando usos mais amplos. Ao mesmo tempo a disponibilidade de software e ferramentas vêm aumentando — destacou Feinberg.
O Bradesco está dobrando o orçamento de inteligência artificial para 2018. A empresa, explicou Marcelo Câmera, gerente de inovação do banco, investiu em um robô que responde a 11 mil perguntas de cientes por dia através do aplicativo da empresa no celular. Agora, a ideia é a ampliar o serviço para o atendimento em voz.
— Antes, a inteligência artificial era uma aposta. Depois, vimos que a tecnologia era viável e estamos evoluindo nos serviços. Estamos de olho em start ups. Temos um programa de fomento à inovação. Os nossos atendentes de call center usam inteligência artificial para responder às questões. Esses programas interagirem com o ser humano — explicou Câmera, destacando que o índice de satisfação dos robôs no aplicativo é de 70%.
Outro exemplo é a White Martins, que atua na fabricação e distribuição de gases industriais. A companhia começou a usar a inteligência artifical para fazer previsão de estoque e identificar a fadiga de motoristas, através da análise de padrões do comportamento, como sinais de cansaço e até a quantidade de vezes que o condutor pisca os olhos. Assim, o orçamento para área vai aumentar em praticamente em cinco vezes deste ano para 2018.
— Hoje, os sistemas que usam inteligência artificial são feitos em processos isolados. Agora, vamos fazer uma integração para ter otimização logística. O objetivo é reduzir os custos, aumentar a segurança e elevar a confiabilidade no processo — afirmou Marcos Guimarães, diretor de Logística da White Martins.
A Smiles, empresa do programa de relacionamento da Gol, passou a usar a inteligência artificial para responder as perguntas dos clientes feitas no perfil da companhia nas redes sociais. Como resultado, a companhia viu aumentar em dez vezes o volume de interação com os clientes. Neste mês de dezembro, os próprios robôs vão fechar e emitir as passagens.
— Há um potencial de redução de custos, pois a inteligência artificial vai reduzir o tempo de análise para formatar as promoções. Só conseguimos evoluir nesse tema quando criamos um orçamento para isso. Começamos esse ano e foi de 2,5% do total investido em inovação pela empresa. Para 2018, vamos dobrar esse percentual — afirmou Tulio Oliveira, diretor de Tecnologia e Operação do Smiles.
As empresas, assim como especialistas, são unânimes em afirmar que essas novas tecnologias vão substituir as camadas mais básicas de mão de obra, como já vem ocorrendo. Julio Sgarbi, consultor da Huawei, lembrou que o Brasil está acompanhando a adoção dessas tecnologias de forma muito rápida.
— São sistemas que utilizam dados em grande quantidade e com a inteligência traçam as informações que precisam para entender o que está acontecendo. Por isso, esses robôs estão sendo usados por empresas em seus processos e já fazem parte do produtos e serviços lançados ao consumidor — disse Sgarbi.
Roberto Aran, diretor da Resource, uma empresa de tecnologia, lembrou que em poucos anos a inteligência artificial estará embarcada na maior parte dos aplicativos e dos produtos. Marildo Matta, diretor da Plusoft, pontuou que as empresas têm sido pressionadas a oferecer um serviço mais eficiente para se diferenciar dos concorrentes a um custo menor. Ele destacou que essas soluções permitem uma redução de até 80% nos custos.
Marcos Trinta, diretor da VOCS, outra empresa de tecnologia, ressaltou o avanço no desenvolvimento do uso de biometria em soluções de inteligência artificial.
—Tivemos um cliente que estava sofrendo com problema de fraude no cartão. Eles decidiram usar inteligência artificial para identificar os compradores utilizando biometria. Desenvolveram um agente que identificava se o comprador era realmente a pessoa dona do cartão. O projeto se pagou em 30 dias — exemplificou Trinta.
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