Da Redação, com CIO/EUA
Publicada em 23 de janeiro de 2018
Apesar de todo o hype recente, o Blockchain ainda precisa ser mais amplamente empregado nas empresas. E isso pode mudar de vez em 2018 à medida que a reputação da tecnologia para transações confiáveis continua a crescer entre os líderes do mercado de TI (tecnologia da informação). A tecnologia tem potencial para revolucionar processos em todos os setores da economia, promovendo uma nova geração de aplicações que estabeleçam confiança, responsabilidade e transparência, requisitos indispensáveis às transações no cenário corporativo.
O Blockchain é uma espécie de livro de contabilidade (também chamado de ledger) digital compartilhado para registrar transações. Cada transação entre os participantes em uma rede é guardada em um registro conhecido como um bloco (“block”, em inglês), que é assinado digitalmente para garantir sua autenticidade e criar então um consenso sobre cada etapa da transação.
O que tem animado os CIOs sobre o Blockchain é a sua habilidade de escala em uma empresa, oferecendo um efeito confiança digital.
Por exemplo, todas as partes interessadas em uma cadeia de suprimentos suportada por Blockchain recebem uma cópia do registro existente autenticado. Caso algo impacte essa cadeia, por exemplo, todas as partes podem ficar tranquilas, porque o que o registro digital informar que realmente aconteceu. Usar um ‘ledger’ digital para garantir confiança é algo que as tecnologias rivais do Blockchain não oferecem atualmente, segundo muitos CIOs.
“O Blockchain é uma daquelas tecnologias capaz de se tornar uma vantagem competitiva ao longo do tempo”, afirma o CIO da TD Ameritrade, Vijay Sankaran.
Blockchain para logística
A United Parcel Service (UPS) possui uma equipe dedicada a explorar o impacto do Blockchain sobre a cadeia de suprimentos, afirma a diretora de inovação e arquitetura corporativa da empresa, Linda Weakland. A executiva vê grande potencial no Blockchain para a automatizar grande quantidade de processos manuais que compõem o trabalho de despacho de mercadorias na alfândega. Um sistema assim pode ajudar a companhia a “modernizar todo o processo e liberar as mercadorias de forma muito mais rápida do que fazemos”. O Blockchain também poderia aumentar a precisão de transações e reduzir os custos para ativos físicos, como contêineres de transporte.
Mas para destravar o potencial do Blockchain, a tecnologia precisa ser adotada em toda a cadeia de suprimentos. Por isso, em novembro de 2017 a UPS passou a fazer parte do consórcio BiTA (Blockchain in Trucking Alliance), que vem desenvolvendo padrões para a indústria de fretes. Weakland afirma que esses padrões poderiam ajudar a UPS e seus parceiros a compartilhar dados usando Blockchain, o que é difícil de fazer atualmente. “Com o BiTA, vamos poder ter mais padrões para tornar o Blockchain mais útil do que é hoje”, diz a executiva.
A UPS vê o Blockchain como uma parte integral da sua Smart Logistics Network, que também inclui outras tecnologias emergentes como Internet das Coisas (IoT), robótica, Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning.
O CIO da UPS, Juan Perez, a quem Weakland se reporta, está aplicando essas tecnologias no restante dos negócios da companhia como parte do Advanced Technology Group que ele criou em 2016. “Ele (Perez) nos desafia a estar no limite e realmente olhar para as tecnologias que farão a diferença”, destaca Weakland.
Aposta limitada
O Blockchain apresenta quase tantos desafios quanto oportunidades para as companhias de serviços financeiros como a TD Ameritrade, onde o CIO Sankaran criou uma equipe dedicada para explorar o uso da tecnologia. O executivo acredita que o Blockchain vai diminuir as janelas para a liberação de ativos, automatizando, em minutos ou segundos, o que costuma levar dias.
O processo de transferir arquivos entre uma grande quantidade de parceiros também vai ficar mais claro, reduzindo processos manuais e baseados em papel. O primeiro grande teste da TD Ameritrade é facilitar transferências de dinheiro entre o seu serviço de corretagem e sua afiliada TD Bank quase em tempo real.
“É um modelo para continuar a trabalhar com outras empresas para movimentar dinheiro e configurar contas de forma muito mais rápida”, destaca Sankaran.
Outros potenciais usos do Blockchain na empresa incluem o compartilhamento de informações entre clientes, proxy voting (política de voto), que costuma exigir uma grande quantidade de papel, e a substituição de cartões de crédito em micropagamentos. Por fim, a chamada liquidação financeira será o uso mais interessante com o passar do tempo, aponta Sankaran, reduzindo o tempo e as taxas de transação que atormentam o mercado há tempos.
A corretora on-line está testando várias tecnologias hyperledger, incluindo Ethereum, R3 Corda e a Quorum, do JP Morgan. “Realmente precisa ser uma plataforma de grau empresarial para gerenciar segurança e privilégios, além de também se sair bem em escala e performance”, segundo o executivo.
Mesmo assim, Sankaran precisa restringir suas apostas contra a incerteza em torno das tecnologias hyperledger, que ainda possuem uma aura de “Velho Oeste” parecida com os dias iniciais de distribuições de tecnologias emergentes como o Linux, destaca. “O problema é escolher uma plataforma subjacente sabendo que você pode precisar jogá-la fora porque ela não fornece o maior valor”, diz Sankaran, que ainda que está observando de perto o que empresas parceiras e concorrentes estão fazendo neste espaço.
O CIO prevê uma consolidação significativa, com players maiores adquirindo distribuições de Blockchain, forçando mudanças com a maré no mercado. E ele diz que está avançando com consciência total de que “podemos ter de trocar os cavalos em algum ponto”.
“Penso que em 2018 e 2019 o Blockchain vai cruzar o abismo e avançar do uso experimental para ser uma solução popular em serviços financeiros e outros mercados”, afirma Sankaran.
Pronto para disrupção
Apesar de o Blockchain poder revolucionar os serviços financeiros de várias maneiras, as aplicações das tecnologias de ledgers digitais ficam mais estreitas mais adiante. Isso é especialmente verdade na indústria alimentícia, onde a Driscoll’s é conhecida por vender morangos, mirtilos, framboesas e amoras no WalMart, Stop & Shop, Whole Foods e outras redes de supermercados pelo mundo.
A Driscoll’s, juntamente com mais de uma dúzia de produtores de alimentos, está trabalhando com a IBM para usar o Blockchain para ajudar a provar a origem de alimentos estragados, o que, segundo o CIO da Driscoll’s, Tom Cullen, poderia eliminar problemas de compliance.
Como o Blockchain pode registrar todos os pontos de dados em uma cadeia de suprimento, a tecnologia fornece um paraíso virtual para cientistas forenses sobre os produtos que estão sendo rastreados. “Estamos interessados na origem das frutas e em qualquer certificação uma vez que elas comecem na supply chain”, aponta Cullen.
Atualmente, a Driscoll’s utiliza sensores de GPS habilitados por Bluetooth para monitorar a temperatura das frutas em coolers de transporte. Então, por exemplo, se um motorista de caminhão no México “cozinhar” as frutas sem saber porque a temperatura no caminhão ficou muito alta, a empresa vai saber disso. Mas isso não ajudará a Driscoll’s a rastrear um lote específico de colheitas caso aconteça um surto de doenças causadas pelos alimentos. A menos que ela esteja usando Blockchain. Ao registrar os códigos de barra de caixas e contêineres de transporte, o Blockchain pode ser usado para rastrear as frutas até uma safra específica, aponta Cullen, permitindo que a Driscoll’s aponte a origem exata dessas frutas.
“(O Blockchain) é imutável e não pode ser alterado, então à medida que você rastreia a cadeia de suprimentos pode confiar nos dados”, explica o executivo. Ele destaca ainda que o Blockchain, o Machine Learning e os dados analíticos avançados para ajudar a melhorar a marcação genética, são as principais das iniciativas digitais da Driscoll’s para 2018.
Agronegócios
No Brasil, a Belagrícola, uma das maiores companhias de gãos do Brasil, adorou a plataforma de Blockchain da IBM para fazer a rastreabilidade de grãos, desde o recebimento, análises laboratoriais, secagem, armazenamento, logística e distribuição, para garantir a confiabilidade da cadeia. O projeto conta com o Agritech Blockchain e com o software de rastreabilidade da parceira de negócios, a SBR. A ideia é que todo o ciclo de produção seja mapeado e categorizado em blocos que poderão facilmente ser controlados e acessados pela Belagrícola e também pelos seus clientes e parceiros no processo.
Choque de realidade
Em um relatório publicado em novembro de 2017, o Gartner notou que, apesar do grande interesse pelo Blockchain, a tecnologia ainda permanece em evolução, considerando os modelos de negócio, os processos e os resultados. Para conseguir acelerar o software, a consultoria encoraja os CIOs a testarem a tecnologia em projetos piloto.
Em junho de 2017, um estudo da Juniper Research revelou que quase 6 em cada 10 (57%) grandes corporações estavam considerando ativamente ou estão no processo de implantação da tecnologia Blockchain. Quase 400 fundadores, executivos, gerentes e TI da empresa responderam ao Blockchain Enterprise Survey. Entre as empresas que já haviam chegado ao estágio PoC (Prova de Conceito), dois terços (66%) esperavam que a tecnologia fosse integrada em seus sistemas até o fim de 2018.
Usando os dados da pesquisa, o relatório identificou empresas que, por exemplo, estão usando Blockchain para registro de terras e como moeda fiduciária digital, mas em cada uma dessas oportunidades, a escala e a variedade de barreiras eram significativas.
A pesquisa afirmou que entre as empresas que mais se beneficiam estão aquelas com:
- 1 - Necessidade de transparência e clareza nas ações;
- 2 - Dependência atual dos sistemas de armazenamento legado em papel;
- 3 - Um alto volume de informações transmitidas.
No entanto, a Juniper argumentou que, embora a percepção de Blockchain e seus benefícios houvesse aumentado drasticamente nos últimos 12-18 meses, havia o perigo de que as empresas pudessem buscar a implantação de Blockchain sem ter considerado as opções alternativas. De acordo com o autor da pesquisa, Dr. Windsor Holden, "em muitos casos, a mudança sistêmica, em vez de tecnológica, pode ser uma solução melhor e mais barata do que a cadeia de bloqueios, o que poderia potencialmente causar perturbações internas e externas significativas".
Na verdade, a pesquisa descobriu que as empresas podem estar subestimado a escala do desafio Blockchain. Para questões como a interoperabilidade, a proporção de entrevistados que expressaram preocupações aumentou progressivamente à medida que as empresas avançam para a implantação total.
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