Patrícia Büll - 5 de setembro de 2017 no site Draft
Leonardo Almeida é um daqueles talentos precoces que tinha tudo para se tornar um executivo de sucesso. Mas, aos 29 anos, decidiu largar uma carreira promissora e ascendente em uma multinacional para se tornar empreendedor, um sonho que acalenta desde os 15 anos, quando abriu uma banquinha no interior de Minas Gerais para consertar computadores. Leonardo é um dos sócios da Menu.com.vc, startup voltado ao mercado B2B que abastece bares e restaurantes, no mesmo estilo das tradicionais distribuidoras de produtos, mas por meio de uma plataforma digital.
“Fazemos a intermediação entre a indústria e pequenos bares e restaurantes, possibilitando a venda direta da indústria para esses comerciantes”, diz Leonardo, ao contar que a sacada do negócio surgiu quando ele ainda estava no mundo corporativo, justamente na área de e-commerce de uma empresa de eletrodomésticos. “Sempre tive a ideia de empreender e, mesmo quando estava empregado, ficava pensando nisso. O insight veio da constatação de que não havia nenhum grande e-commerce de alimentos e bebidas no Brasil, e fiquei pensando como seria possível criar algo inovador para este segmento.”
Para amadurecer a ideia, ele decidiu retomar contato com um velho amigos dos tempos de trainee, Gustavo Penna. Gustavo curtiu a ideia, mas achava que a grande oportunidade estava no atendimento a bares e restaurantes de pequeno e médio portes. “Sem escala para comprar diretamente da indústria, esses comerciantes acabavam indo a atacadistas. Por isso decidimos mirar neles”, conta Leonardo.
Isso tudo ocorreu no ano passado. A Menu tem pouco mais de sete meses — foi lançada em dezembro de 2016, depois de onze meses de projeto dos dois co-fundadores. “Gustavo era gerente para bares e restaurantes da BRF em Brasília e achou que tínhamos uma oportunidade genial de fundir nossos conhecimentos. Ele com distribuição de alimentos e bebidas e, eu, com logística, e-commerce e solução digital. Foi aí que nasceu a Menu”, diz Leonardo. O investimento inicial no negócio foi de 1 milhão de reais, captado com investidores-anjo (que pedem para não ser identificados).
QUANDO INOVAR SIGNIFICA RESOLVER PROBLEMAS SIMPLES
A partir da plataforma da Menu (ou direto do aplicativo, por enquanto somente no sistema Android) pequenas e médias empresas têm acesso a produtos diretamente da indústria (pense em baldes de polpa açaí, caixas de sachês de catchup, pacotes de arroz etc), de forma mais prática e econômica, por eliminar a figura do atacadista na transação. Usando a plataforma da startup, os pedidos saem diretamente do estoque da indústria para o estabelecimento. Sem nem precisar se deslocar até os atacadistas, o comerciante resolve tudo pelo seu celular ou computador e os produtos são entregues em menos de 24h, em uma única entrega, mesmo que sejam de fornecedores diferentes. “E a nossa vitrine é inteligente: ela aprende com as compras e, quando o cliente acessa a plataforma, dá de cara com os produtos ligados ao seu nicho de negócio”, conta Leonardo.
O cliente não paga nada a mais por essa facilidade. O comerciante só precisa se cadastrar no site e fazer a compra — que é faturada diretamente pela indústria. Esta, por sua vez, paga uma comissão para a Menu. Se o comerciante já era cliente de determinado fornecedor na indústria e passou a comprar por meio da Menu, a comissão é uma. Porém, se ele se tornou cliente a partir da Menu, a comissão é um pouco maior. “O percentual é variável, mas fica entre 8% e 15% do valor total da compra”, diz Leonardo.
A vantagem para a indústria, prossegue o fundador, é que ela ganha uma estrutura complementar de venda e tem acesso a um cliente que até então, por conta do número pequeno de pedidos e do custo da logística, estava fora de seu escopo. “Além do mais, a gente consegue aumentar o preço médio de venda. Por exemplo: tal produto custa 10 para atacadista, que o revende por 13, mas com o nosso aplicativo, a indústria vende o mesmo produto, lá na ponta, por 13. Ela paga comissão para gente, mas o que antes rendia 10, agora rende 11,50, já descontada a nossa comissão”, diz, e arremata:
“Mesmo pagando a nossa taxa, a indústria ganha mais do que antes”
O custo da entrega é dividido entre as indústrias participantes — cerca de 60 marcas até agora — e a logística é gerenciada pela Menu. A frota de caminhões é formada por um pool de motoristas autônomos que são microempreendedores. “Funciona como uma espécie de Uber. O motorista é dono do próprio caminhão, mas trabalha sob nossa orientação”, diz Leonardo.
Por enquanto, a startup opera apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, mas o plano é expandir para para o Centro-Oeste, Brasília e Minas Gerais até o fim deste ano. “Acreditamos que a nossa solução tem aderência com a América Latina toda, mas agora, vamos trabalhar para consolidar o negócio aqui e atingirmos 16 Estados até o final de 2018”, diz o fundador, que como todo empreendedor, sonha sempre mais alto. O ano de 2019 deve ser o ano da expansão para a América Latina. Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e México estão na lista. “Depois disso, esperamos que outros segmentos que sofrem das mesmas dores da indústria de alimentos se interessem por nossa ferramenta”, diz Leonardo e prossegue:
“Nosso sonho é ser um hub de comerciantes para toda a América Latina”
A Menu tem, atualmente, 3 mil clientes cadastrados. Desses, 1,5 mil já fizeram compras e cerca de 500 são recorrentes que já fizeram mais de 14 pedidos consecutivos. Conquistar a América Latina está longe, é verdade, mas a startup tem mantido um crescimento de 35% a 40% ao mês (ritmo que pretende manter até o final de 2018). A expectativa de faturamento para este ano é de 6 milhões de reais.
DE ASSALARIADO A DONO DE EMPRESA
Apesar de cada passo da Menu estar trazendo resultados até melhores do que os planejados, Leonardo diz que “foi duro” abandonar a carreira de executivo para se tornar empreendedor. Ele passou por um subsidiária da Vale em São João Del Rey, onde fez faculdade de Economia, que lhe deu a oportunidade de passar três meses em Londres desenvolvendo um projeto em sustentabilidade. Quando voltou, já transformado pelo tamanho do mundo que viu pela frente, decidiu arrumar as malas e se mudar para São Paulo.
Aqui, começou como trainee da Whirlpool, e em pouco mais de quatro anos, passou para coordenador e gerente de e-commerce da Brastemp. Em 2015, nova mudança. “Eu era responsável pela logística internacional da Suzano. Mas, desde que saí da Whirpool, já vinha com o olhar de querer fazer alguma coisa minha. Eu desenvolvia algumas ideias mas quando percebia que não tinham potencial, acabava abandonando”, conta.
A batida do martelo veio quando surgiu a oportunidade de uma promoção dentro da Suzano, mas para isso, teria de se mudar do Brasil. Ao mesmo tempo, ele enfrentava um problema familiar que exigia que permanecesse em São Paulo (o padrasto fazia um tratamento de saúde e ele queria estar por perto). Ele fala de um medo comum:
“Ninguém está pronto para escolher abandonar uma carreira construída com tanto esforço e mergulhar no Brasil para empreender”
E prossegue: “A estabilidade de uma multinacional traz alguns confortos que é difícil de abandonar, como uma salário bom, carro da empresa, benefícios… Mas, ao mesmo tempo eu pensava que com o passar do tempo seria cada vez mais difícil abrir mão disso. Se eu realmente quisesse empreender, teria que ser naquele momento. Esse fator externo, da família, acabou me ajudou a tomar a decisão”. Parece ter escolhido a opção certa do menu.
DRAFT CARD
- Projeto: Menu.com.vc
- O que faz: Venda direta de alimentos e bebidas para bares e restaurantes
- Sócio(s): Leonardo Almeida, Gustavo Penna, Pedro Molinar e Rafael Miller.
- Funcionários: 12
- Sede: São Paulo
- Início das atividades: 2016
- Investimento inicial: R$ 1 milhão
- Faturamento: R$ 6 milhões (estimativa para 2017)
- Contato: atendimento@menu.com.vc e (11) 94212-8103
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